... a Pequena Companhia de Teatro promove, nesta segunda-feira, dia 29, o seminário "A crítica teatral e a formação de plateia: exercício de ambos"? O evento, que acontece às 19h, na Rua Vinte e Oito de Julho, 295, contará com a participação do Prof. Dr. Gilberto Freire de Santana e do jornalista André Lisboa, e mediação do ator Cláudio Marconcine. A entrada é franca e o acesso se dará por ordem de chegada até atingir a lotação. Até segunda, então!
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Ecos da última jornada
Gosta de
literatura e teatro e não abre mão de um texto primoroso, mas acha que em São
Luís não há variedade de opções de espetáculos teatrais? Eu quero te alertar e
te dar uma boa notícia.
O alerta
é: assim como eu estava, você também está desinformado.
A boa
notícia é: você tem sim um teatro experimental, cru, que desperta sensações,
provocativo e intenso. Pude concluir isso ontem ao assistir A pequena Companhia
de Teatro na peça: “Velhos caem do céu como canivetes”, livremente inspirado no
conto “Un Señor Muy Viejo com Unas Alas Enormes” de Gabriel Garcia Marques.
O grande
escritor latino ficaria feliz em ver a adaptação que fizeram aqui. Uma crítica
ao homem, seus grupos e instituições, suas pobrezas espirituais. Um retrato da
humanidade desconectada do divino e transcedente. Provocações e reflexões sobre
o poder, a ganância, o amor, a amizade, a política e a história. O universo
onírico do realismo fantástico de Garcia pode ser plenamente sentido na
elogiável adaptação feita. Destaco as interpretações intensas dos atores
Claudio Marconcine e Jorge Choairy.
Que
Jorge é um dos nossos melhores Djs, todo mundo sabe. Convido a todos fãs do seu
trabalho a conhecerem também o ator Jorge Choairy em cena. Vocês verão que a
qualidade é a mesma.
Destaco também a excelente direção de Marcelo Flecha. Além das excelentes atuações, impressiona o trabalho de expressões corporais dos atores em cena. Impressionante, aliás, foi a palavra que foi mais comum na descrição da peça ao final da mesma.
Destaco também a excelente direção de Marcelo Flecha. Além das excelentes atuações, impressiona o trabalho de expressões corporais dos atores em cena. Impressionante, aliás, foi a palavra que foi mais comum na descrição da peça ao final da mesma.
Pra quem
procura teatro de primeira linha, não há justificativas pra não ir. E Hoje
acontece a última apresentação desse ano, então não vacilem.
Ah, ia
esquecendo: é GRÁTIS.
O
espetáculo começa às 19hs na Pequena Companhia de Teatro, no Reviver.
Agilizem-se. Recomendo muito.
Dê a
você mesmo esse presente de natal.
Nivandro
Costa Vale
IMPREVISTO
BOM:
Tive a
alegria de conhecer, hoje (antes tarde do que nunca), o trabalho do teatrologo
e diretor Marcelo Flecha. Trata-se da peça Velhos caem do céu como canivetes,
inspirada num conto de Gabriel Garcia Marquez. Como o que é muito bom dura
pouco - sobretudo em nossa ilha - amanhã, às 19h, será a ultima apresentação.
Música,
cenário, figurino, texto, direção são irretocáveis. Mas o trabalho dos atores,
ultrabem dirigidos, é comovente.
O ator
Jorge Jorge Choairy, faz um trabalho primoroso e um contraponto ao personagem
do ator Claudio Marconcine. Um belo jogo cênico se dá entres os dois, o
trabalho de expressão corporal é um capítulo a parte.
Espetáculo
Lindo, sério, urgente, imperdível, deve ser visto ate amanhã por todos aqueles
que, como eu, sentem-se órfãos de espetáculos que ousem ir além do mero
entretenimento.
Despeço-me
com votos de que vocês possam amanha, segunda 19h, desfrutarem desse belo
trabalho da Pequena Grande Companhia de Teatro.
Prestigiem!
Convidem pessoas que vc gosta muito. Faça esse carinho em quem te é importante.
E, de quebra, contribua para que o bom teatro tb tenha vez e voz entre nos.
William
Amorim
Ontem
fui assistir a peça "Velhos caem do céu como canivetes", na Pequena
Companhia de Teatro, em que o amigo Jorge Choairy atua e por indicação de
Nivandro Costa.
Cheguei
a duas conclusões: a primeira é que é facinho reclamar que a cidade não tem
nada de bom cultural, mas tá lá, espetáculo de primeira grandeza, som, atuação
e luz fuderosos, DE GRAÇA, numa segunda-feira. Reclamamos de barriga entupida.
Ainda falta, claro que sim, mas se sairmos da inércia, achamos grandes e lindas
coisas.
Segundo:
nunca vou descobrir se é anjo ou galinha, mas não importa o que somos, desde
que sejamos algo que some na vida de alguém.
Viva as
segundas de surpresas!
Milla
Camões
sábado, 22 de novembro de 2014
Aniversário fora de época
Em 2015 a
Pequena Companhia de Teatro completa dez anos de existência. Na verdade, em
2015 e 2016. Somos um grupo que tem o privilégio de festejar durante um biênio.
Explico: em 2005 estreou o espetáculo “O Acompanhamento”, montagem basilar para
a constituição do nosso grupo. Em 2006 a companhia se estabeleceu legalmente,
como pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos. Para ser mais exata,
nossa comemoração se estenderia do dia 29/11/2015, dia da estreia do
espetáculo, até o dia 11/06/2016, quando recebemos a certidão de pessoa
jurídica, depois de uma via-crúcis burocrática, enfadonha e onerosa. De lá para
cá foram quatro espetáculos (O acompanhamento, Entre laços, Pai & Filho e
Velhos caem do céu como canivetes), duas coproduções com a Cia. A Máscara de
Teatro (Medeia e Deus Danado) e diversas outras atividades artísticas (leituras
dramáticas, feiras de livro, debates, performances, autos, palestras,
lançamento de livro, oficinas etc.). Inicialmente vamos comemorar refletindo.
Resolvemos estabelecer um fórum de reflexões entre os quatro para analisar
nossa trajetória até aqui. A ideia é pensar o todo e o uno. Bater um papo
semanal, sem data para terminar, sobre o que éramos, o que nos tornamos, e no
que não queremos nos transformar. Discutir sem pressão prática de agenda,
projetos, pautas, editais, nada disso, apenas refletir. Estamos dispostos a
encarar os próximos dez anos? Para que serviram os que passaram? Quais são as
mudanças necessárias? O que não pode mudar? Cabe resistir? Cabe debater? Cabe
mais um? Cabedal? Cabide? Com quantos sonhos se constrói uma realidade? Com
quantos pesadelos se destrói um sonho? Com quantos amigos se impõe uma vigília?
E a boa, velha, repetida, e principal pergunta: com quantos paus se faz uma
canoa? As respostas aparecerão aqui, parcimoniosamente. Quanto à última, nem um
mestre canoeiro.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Novo eco
Velhos Caem do Céu Como Canivetes, espetáculo de excessos e de difícil
assimilação
Por Alexandre Mate
Drummond manifesta em seu belo poema O Lutador que haveria palavras
dentro dele buscando canal: prontas para explodir. Criadores teatrais — como
vulcões em estados próximos à erupção —, aliado às palavras, teriam, além
destas, imagens, deslocamentos e desenhos no espaço cênico, efeitos de diversas
naturezas, músicas e sonoridades em momentos distintos... A linguagem teatral é
complexa e a eclosão de seu fenômeno ocorre durante o espetáculo. Antes e
depois disso, o que se tem são idealizações e tentativas de explicitação.
A Pequena Companhia de Teatro, de São Luís (MA), e cujo trabalho
anterior foi o pungente Pai e Filho, apresentou seu último trabalho no Teatro
do Sesi, de Piracicaba (SP), durante a nona edição do Fentepira. A obra, toma
como referência um conto de Gabriel García Márquez que, de modo bastante
sucinto, apresenta os diálogos entre um anjo “caído” e um homem apartado do
mundo. Tal situação, característica dos embates e choques entre seres de
contextos absolutamente distintos, tem como cenário uma paisagem devastada
(repleta de lixo reaproveitado e transformado em “obras de arte”) e lotada de
objetos heteróclitos.
Feito máquinas, as duas personagens falam sem pausa e de modo
ininterrupto. Sem pausa, e como condenado ao movimento constante, o ser que
habita a paisagem catastrófica, parece um descendente de Sísifo (ele não
descansa nunca, e parece condenado aos movimentos sem sentido).
Sem tempo para a reflexão do espectador, os efeitos se somam e vêm aos
borbotões. Gilberto Gil lembra em versos de música famosa algo como em um copo
vazio haveria uma plenitude de ar. Velhos Caem... precisaria, talvez, a partir
de tal preceito, conferir tempo para que o público (razão de ser do espetáculo)
pudesse decodificar a pluralidade de tantos símbolos.
Portanto, pausas e ralentamentos quanto ao discurso excessivo (texto,
adereços, movimentações...) tenderiam a ajudar na fruição de pequenas belezas
não percebidas pelo excesso.
*Velhos Caem do Céu Como Canivetes foi apresentado no domingo, dentro da
mostra oficial do 9º Fentepira
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Teatro = Coletivo
Uma companhia
de teatro é uma estrutura orgânica. É argilosa, pulsa, se modifica, vive. Por
muito tempo acreditei no contrário, e apostei todas as minhas fichas na rigidez
das pedras. Hoje entendo que um organismo precisa respirar, e tudo o que dele
emana é frutífero, sempre e quando seus fundamentos sejam respeitados. A
pulsação de uma companhia está diretamente relacionada à pulsação dos seus
membros, e suas conquistas tem a mesma relação progressiva. No final da década
de oitenta e início dos noventa – quando morava no interior do estado – vivi
algumas das experiências mais significativas da minha vida no que se refere à
vida em coletivo. Na época, sonhávamos juntos exatamente aquilo que
conquistamos hoje, individualmente. De lá para cá, algo se perdeu. O indivíduo
se sobrepôs ao todo, e estamos repletos de coletivos que reúnem indivíduos
ilhados, entupidos de companhias de um homem só, entulhados de grupos que não
se agrupam, de companhias sem unidade no discurso, de artistas migratórios que
saltam de coletivo em coletivo, de grupos que são apenas um selo, de CNPJs de
aluguel – tudo com o argumento de preservar o indivíduo. Esses defensores
esquecem que o neoliberalismo dos anos noventa se encarregou, não só de preservar,
mas de impregnar o individualismo em toda a sociedade. Os grupos que resistem
dentro de padrões mínimos de convívio coletivo, de confronto dialético, de efetiva
socialização, foram, são e serão o esteio do teatro brasileiro. Quando aqui me
contradigo, ao defender a argilosidade necessária para a existência de um grupo
de teatro, e ao criticar a pluralidade pulsante nos formatos dos coletivos
contemporâneos, é para compartir com o leitor meu questionamento atual, e a
reflexão que dele provém. O ato teatral, de fato, na sua essência, pode
acontecer na solidão do indivíduo, mesmo que pareça acompanhado?
domingo, 19 de outubro de 2014
Marginal
Margem.
Sempre estive à margem. Minha opção marginal — sobre o que eu iria fazer para o
resto da vida, a forma como iria me relacionar socialmente, as opções de
pensamento — sempre me conduziram para a margem. Teatro, reflexão, discrição,
nunca serão centrais no mundo ocidental, portanto, a vida tem me guiado para a
margem, de onde se enxerga o mundo de outra forma. Fora do centro continuo
andando, e a margem me guia para fora da periferia. O teatro, per se, já é marginal. Na sociedade
contemporânea, entre as artes, jamais poderíamos colocá-lo no centro.
Música e cinema são as linguagens que ocupam a centralidade do
interesse popular. Nossa opção de teatro acentua essa marginalidade, quando
acredita nessa linguagem como instrumento de reflexão e transformação
social. Por isso, quando ouço — Matem o marginal!, sinto-me na guilhotina.
Quando fundamos a Pequena Companhia de Teatro, sabíamos do lugar periférico que ocuparíamos no
interesse da sociedade, e nossas ações não buscaram atingir o centro, e
sim, trazer esse espectador para experimentar o olhar periférico; um olhar
diferente do olhar que costuma ser centralizado no teatro: a diversão, o
entretenimento, a glamourização, o riso fácil, a pasteurização do pensamento, e
os diversos clichês temáticos. É o que somos. Marginais. Misturo o número da 1ª
pessoa propositadamente, porque o que fazemos reflete no que penso, e o que
penso encontra eco no que fazemos. Fragmento o discurso desta postagem
propositivamente, para gerar no leitor um incômodo marginal. Um convite a sair
do óbvio, à mudança do olhar, a romper com a norma, a sair da zona de conforto.
Uma música dissonante, um espetáculo hermético, um livro de três mil páginas,
um filme em preto e branco, arrisque-se. Venha para a margem. Seja marginal.
P.S.: A
propósito, amanhã tem Pai & Filho. Última apresentação antes da Mostra SESC
Cariri de Cultura. Sua chance de iniciar o exercício.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Você sabia que...
... o
espetáculo Velhos caem do céu como canivete foi selecionado para o
9º FENTEPIRA – Festival Nacional de Teatro de Piracicaba? A curadoria ficou a
cargo do ator e diretor Roberto Rosa, que selecionou o espetáculo maranhense
dentre as 346 peças inscritas, de 89 cidades e 17 estados. A apresentação
acontecerá no dia 22/11, no Teatro Municipal de Piracicaba. Para ver detalhes
da programação do FENTEPIRA, clique aqui. Recentemente o espetáculo Pai & Filho foi confirmado na XVI Mostra
SESC Cariri de Cultura. As datas das apresentações serão no dia 11/11, as 19h,
no Centro Cultural Banco do Nordeste, na cidade de Juazeiro do Norte, e no dia
12/11, as 21h, no Teatro Adalberto Vamozi-Sesc Crato.
domingo, 5 de outubro de 2014
R.S.V.P.
A expectativa |
A nova sede da Pequena Companhia de
Teatro forjou uma prática que venho exercitando desde o ano passado, buscando
atrair espectadores para as temporadas dos nossos espetáculos. Trata-se de um
convite personalizado que faço, via caixa de diálogo, em diversas redes
sociais, provocando o espectador a vir nos ver. O fato seria banal, não fosse o
comentário da Cris Campos, provocador desta reflexão. Segundo ela, essa minha
indelicada atitude, “foi fundamental, não para eu ir, mas para ir diferente”, e
completa, “quando a gente gosta muito de algo que fizemos, que consideramos
bacana, interessante de ser compartilhado, a gente faz questão de que seja de
fato compartilhado, né? Não é só um flyer, é um convite pessoal, semanal e
desejoso. E isso é muito bom. Para mim, me trouxe a expetativa de ir, de
trocar, de absorver, de ir desarmada para receber o que o universo, daquele
instante, queria que eu vivesse”. Quando digo “indelicada atitude”, é porque,
as mensagens que envio, normalmente têm um tom provocativo, ora ácido, ora
irônico, ora jocoso, brincando com a ideia de que você curte teatro, mas não
frequenta. Naturalmente, meu atrevimento fazia com que eu imaginasse certo
constrangimento do destinatário da missiva, um espectador sendo cobrando no
mais íntimo de todos os meios modernos: a mensagem in box. O que eu não imaginava era que, alguns espectadores, iriam
perceber o subtexto que ali deixo, e que a Cris, delicadamente, percebeu: a
pessoalidade. Sim, o que eu digo em cada uma dessas mensagens é da importância
pessoal e intransferível de que você veja o espetáculo. Do importante que é, para
mim, que você veja este ou aquele espetáculo. A pessoalidade aqui, busca a
quebra desse espectador genérico, anônimo, insípido, e procura percebê-lo como
ser individual, pessoal, possuidor de uma opinião tão diversa e particular que
faz com que a cor seja vista descolorida pelo espectador ao lado. Se minhas
mensagens não chegam mais, é porque desisti de você, ou porque o constrangimento
agora é meu. Se nunca chegaram, é porque minha educação é inversamente
proporcional à nossa intimidade. Você deve se perguntar por que ultimamente tenho
insistindo tanto no tema espectador. Acontece que sou de um tempo e de um
espaço onde o espectador não existia. Fazíamos teatro para ninguém,
literalmente. Hoje, esse precioso indivíduo, se apresenta para o diálogo, e,
como não tenho muito traquejo para lidar com ele, vou construindo essa conversa
com a sensibilidade de um cavalo. Por tanto, se receber uma mensagem, sinta-se
acariciado, mesmo que seja com um coice.
P.S.: Amanhã tem Pai & Filho, não vai ficar esperando minha mensagem. Vai?
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Teatro é espaço de encontro
Quem vai assistir a um espetáculo teatral sempre tem a certeza de que vai encontrar pessoas, tanto na plateia quanto no palco. Conhecidos e desconhecidos. Pode-se sentar na frente, atrás, lateralmente, no chão, ficar de pé. Em cada local e situação, perspectivas diferentes do encontro: manter-se à distância ou aproximar-se?
Mesmo plateias diferentes, são plateias de teatro, e sempre se reencontram. Fazedores teatrais também são assim: se fazem teatro, se encontram, se reencontram. De uma forma que não sei ao certo, se solidarizam nas dificuldades e se confraternizam nas conquistas.
A dinâmica da vida de cada um faz com que as escolhas interfiram nesses encontros, de diferentes modos. Aos fazedores, a conquista dos espaços. A circulação não só oportuniza o conhecimento de outros espaços como amplia as oportunidades de encontro. Não estamos imunes às interferências do meio e das gentes. O que fica, fica. A partir dai, os reencontros são inevitáveis: sensação de amparo, de aconchego. Uma felicidade descomunal em rever pessoas que continuam a fazer da sua arte seu ofício, apesar dos atropelos. Como que por uma reflexo no espelho conseguíssemos ver neles também a nossa vida. Percebê-los em cena faz-nos ainda vivos.
Gosto de me reencontrar nos espaços num recorte temporal diverso. As sensações sempre diferem numa comparação mesmo que grosseira.
Numa época eu me sentia meio nômade, mas consegui identificar alguns espaços nos quais me sentia pertencente. Quando os revisito, encho-me de esperanças. Não sou de todo ruim. Faço teatro.
domingo, 21 de setembro de 2014
Leve e ligeiro, meu balanço do FNT.
O Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga é daqueles eventos
em que você se sente em casa. A cidade, os organizadores, o vinho, o papo, o
frio. Uma semana subindo e descendo as escadas do mosteiro dos capuchinhos para
ver e fazer teatro. As análises da Mostra Nordeste ficaram a cargo de Luis
Alonso Aude, Wilson Coêlho e Makarios Maia Barbosa – provocadores contumazes. O
espetáculo Velhos caem do céu como canivetes conseguiu se apertar no
aconchegante Teatrinho Rachel de Queiroz, e tivemos uma apresentação integra,
para um público que entupiu a casa, e riu muito além da conta colhida nas vinte e oito apresentações anteriores. A ovação final é suspeita, porque
o público de Guaramiranga é sempre generoso com os espetáculos que por lá
passam. Contudo, nos encheu de alegria e satisfação, pois confirmamos que o
diálogo entre espetáculo e plateia também se estabelece fora do Maranhão. O debate
aconteceu logo após a apresentação, porque Jorge e Cláudio retornariam na manhã
seguinte, horário do debate. O fato, não permitindo que os debatedores tivessem
a chance de se debruçar, como vinha acontecendo anteriormente, gerou comentários
espontâneos e virginais. Vivências: o encontro com Abimaelsom, Dane, Pryscilla,
Henrique, Silmara, Bruna, Rogério, Carlos; conhecer Quitéria, Adriano, Tiago, Vanéssia,
Felipe, Astier; assistir a Fogo, Jacy e BR Trans; rir com a parada de rua;
comer chocolate. Sou um homem de teatro, gosto disso. Gosto de imaginar que
algo no mundo se mexe quando artistas se reúnem. Pretensão? Se vocês vissem e
ouvissem o que eu vi e ouvi durante essa semana, tenho certeza que pensariam o
mesmo.
Gabo no palco
Especial para o Jornal da Paraíba
Por Tiago Germano13/09/2014
Na quinta-feira, o JORNAL DA PARAÍBA assistiu à montagem de Velhos Caem
do Céu Como Canivetes, espetáculo da Pequena Companhia de Teatro, de São Luís
do Maranhão. O espetáculo tem direção de Marcelo Flecha e é livremente adaptado
do conto ‘Um senhor muito velho com umas asas enormes’, de Gabriel García
Márquez, escritor que morreu no mês de abril.
Na peça, um misterioso Ser Alado cai no quintal de um Ser Humano, um
catador de lixo que se instrui lendo os livros que encontra entre os resíduos
deixados pelas outras pessoas. Impressiona a atuação de Jorge Choairy e
sobretudo de Cláudio Marconcine, que se transfigura no papel deste Ser Humano,
um homem que abandona as artes plásticas e vive na miséria, cercado pelas
invenções engenhosamente inúteis que passa a produzir.
O desempenho corporal dos atores é fruto de uma metodologia desenvolvida
pelo grupo chamada de Quadro de Antagônicos, no qual a oposição física entre os
atores vai definindo, lendo e regendo as partituras físicas de cada um. O
cenário, produzido artesanalmente, pelos próprios integrantes da companhia, é
dominado por uma torre erguida no centro por latinhas do Guaraná Jesus.
Astier Basílio
Especial para o Correio da Paraíba
13/09/2014
Um ser humano confinado em um lugar ermo, revirando o lixo. Despenca em seu
quintal um ser alado. É em torno deste episódio, e de seus desdobramentos, que
se desenvolve o espetáculo Velhos Caem do Céu como Canivetes, montagem da
Pequena Companhia de Teatro, do Maranhão, apresentada quinta no Festival Nordestino
de Teatro, em Guaramiranga. No cenário, uma imensa torre composta por latinhas
de guaraná Jesus foi um dos pontos de discussão entre os debatedores. “Eu não
consigo ver o lixo aí tal o nível de organização da cena”, pontuou Makários
Maia, encenador do Rio Grande do Norte e convidado como debatedor do evento. Numa
discussão filosófica, o ser humano e o ser alado falam sobre fé. “Você não
coloca a dúvida em cena, mas a descrença”, avaliou Makários. “É um espetáculo
de perspectiva niilista”, observou Wilson Coelho, tradutor, diretor e
dramaturgo do Espírito Santo, também integrante da banca de debatedores. Além
do embate sobre a existência, numa encenação que conciliou tanto o corpo dos
atores, trazendo-os dilatados, a montagem, numa composição repleta de objetos que
mais parecem instalações, assume uma exuberância e a linguagem também é
evidenciada como falência da comunicação – a torre de latinhas é evocada como um
símbolo da Torre de Babel, de onde decorreu o castigo divino na multiplicação das
línguas para impossibilitar, pela incomunicação, a chegada dos humanos aos
céus.
domingo, 7 de setembro de 2014
Espectando o espectador
Foto de André Lucap |
O espectador da Pequena Companhia de Teatro passa por uma experiência
diferente de qualquer outro espectador de teatro. Este que vos escreve, tem por
prática, acompanhar o desempenho do espectador enquanto a sessão acontece.
Espécie de voyeur de luxo, essa mania
acentuou-se a partir do espetáculo O Acompanhamento, e me acompanha até hoje.
Sim, eu vejo cada cochilo, riso, suspiro, bocejo, choro ou ronco seu. Sentiu-se
constrangido? Acontece que o teatro tem transgredido a relação entre palco e
plateia, e isso acarreta uma presença muito mais efetiva do espectador,
exigindo dele uma prontidão maior. Sim, assim como o espectador tem se tornado
cada vez mais exigente com o artista, o artista tem se tornado cada vez mais
exigente com o espectador, para que o diálogo se fortaleça, e favoreça a
construção de um teatro mais inteiro, dinâmico e contracultural. Meu prazer
está em espectar você, e avaliar de que maneira esses atores (você e o
espetáculo) dialogam e constroem a significação do que a companhia propõe para
reflexão. Não, não tem nada a ver com um modismo de público participativo,
anônimo em cima do palco ou personagens invadindo a plateia, apenas eu,
dissimuladamente, vendo você. Claro que você não percebe, porque as montagens
sempre seguem uma configuração que possibilite a prática sem que seu incômodo
aconteça, contudo, eu estou lá, observando... Analisando... Avaliando... Sentiu
um frio na barriga? É isso mesmo. Saiba que a exigência, aqui, não está apenas
para o ator. No nosso caso, o encontro teatral também serve para refletir sobre
o espectador – esse cidadão, que é um ser sócio-político-cultural sobremodo
transformador (ou não) do seu entorno. Você, na sua cadeira, é tão importante
quanto o ator que representa, por isso, a sua responsabilidade é tão
integradora quanto a do artista que você observa. Nossa exigência avança na
busca do diálogo com o espectador disposto, atento, presente, pensante. Quer
pipoca e refrigerante? Vá a uma lanchonete. Quer sacudir a cabeça? Vá a uma
boate. Quer gritar? Vá a um parque de diversões. Quer acreditar na torpe utopia
de mudar o mundo? As portas da Pequena Companhia de Teatro estarão sempre
abertas. Exigentes, porém, abertas.
domingo, 31 de agosto de 2014
Arte & Mercado
Como estabelecer uma relação de comprometimento com a atividade
artística e seu foco de reflexão, sem deixar que interesses econômicos
comprometam seus resultados estéticos e dialéticos? O exercício artístico
profissional transita por campos imponderados que vão além da arte, e a
necessidade de extrair desse exercício o sustento para viver, pode
ser uma armadilha ardilosamente perigosa. Para o artista profissional, se faz
necessário um policiamento permanente, para que mudanças de rumo na carreira, e
na forma e conteúdo das suas obras, não sejam justificadas por babéis argumentativas,
servindo apenas para dissimular um notório descomprometimento com a sua arte,
em prol do mercado. Nesse caso – se percebida a influência econômica no
conteúdo programático do seu processo, na organicidade da sua prática, no
resultado da sua obra – recomenda-se o desvinculo profissional, para não
comprometer seus resultados artísticos. A mudança de fonte de renda, buscando a
independência financeira através de outras atividades, pode proteger o artista,
desprendendo-o da falha argumentação da necessidade de se adequar ao mercado,
pois, muitas manifestações artísticas, são impassíveis de adequação – conforme
problematiza o fragmento de um manifesto nunca publicado, que utilizo aqui para
concluir:
“[...]
o teatro experimental, de pesquisa, de vanguarda, marginal, laboratorial,
impopular – ou como queiram chamar o teatro que não busca apenas o
entretenimento (Dicionário do Teatro Brasileiro/J. Guinsburg) – é dínamo
incansável para o desenvolvimento sociocultural e artístico de sua época. Esta
opção artística não é compatível com as leis de mercado [...] por não objetivar
o lucro como resultado final, e sim o questionamento, a revisão ou a transgressão
dos valores sociais, políticos, estéticos e culturais da sociedade onde se
manifesta.
Obra
de arte não é produto – afirmação herética para os liberais de plantão.
Torna-se produto dependendo de uma série de fatores e circunstâncias que
dialoguem com o mercado vigente.
Se
uma obra, posteriormente à sua criação, polariza opiniões, acaba afugentando os
investimentos que tem por prática valorizar o consenso. Porém, uma obra digna
não deve abrir concessões no momento da formulação do seu dizer: está aí o
paradigma que incompatibiliza obra de arte e mercado [...].”
Ofereço
o pano para a manga. Traga a agulha e a linha.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Nominar
Estou em processo de montagem de um espetáculo-solo. Ou seria uma performance? Ou um picadeiro de clown? Teatro ou circo? Drama ou comédia? Farsa? Personagem ou persona?
Lango-Lango Retardatário (2005) |
Resido num momento em que a necessidade da satisfação pessoal se renova e que, mais do que nunca, estou aberto às interferências/influências provenientes sabe-se lá de onde, quando estou em processo, independentemente dos procedimentos.
O segredo do labirinto (2007) |
A sala de ensaio é território de experimento e de sensibilidade: Leva-se roteiro, procedimentos, objetivos até bem claros de onde chegar, mas o corpo reage a sua maneira. O planejado se reconfigura, desiste de você para dar lugar e vazão a outras questões que afloram.
Interstício (2007) |
Nominar parece-me, neste instante, desnecessário, pois se é processo, tudo se configurará. E por que não dar ao expectador o benefício da dúvida ou de uma certeza só sua, pois o senso comum não diz que cada um tem a sua própria verdade?
Canto da solidão... (2009) |
A obra de arte sempre terá referências, não só de quem a idealizou, mas também de todo o contexto histórico da qual os expectadores participaram. São essas memórias de coisas que vivemos que nos dará estofo para a leitura possível da obra. Mais ativa essa plateia, impossível.
Requiem aeternam (2009)
|
E se há papeis e atribuições definidas entre os seres (expectador e artista, por exemplo), por que não questioná-los? Compreendo que, quanto mais vazio de preconceitos, mais potência para o preenchimento desse vazio teremos.
Essa é a minha verdade.
domingo, 24 de agosto de 2014
Parabolicamente falho
- Sim, o conhecimento, de nada te serve? |
Não
sou antenado. Me inquieta precisar saber, entender e falar de tudo e de todos.
Essa habilidade de anedota, diz respeito a uma demanda contemporânea de inclusão
e pertencimento, potencializada pela individuação e isolamento pela qual padece
o homem contemporâneo. Creio no pertencimento a partir da interação natural com
o entorno. Viver o que nos rodeia, sem que o raio dessa circunferência extrapole
a lógica do nosso interesse: é mesmo importante saber quem é Anita? Não sei o
significado de MC para a música, nem conheço o grande vanguardista do teatro contemporâneo
do mês passado. Polissemias e polifonias confundem o meu raciocínio, contudo,
procuro não confundir informação com conhecimento – aqui confundi-los-ei,
propositadamente. Prefiro a calmaria da busca pelo conhecimento necessário à
tempestade da informação me buscando. A calmaria é seletiva e permite a
degustação, a tempestade é invasiva e pode provocar afogamento. Quando grito para o meu desajustado cérebro,
buscando algum conteúdo, e este dá de ombros, como dizendo – te vira, respiro
fundo e respondo para o meu interlocutor – não sei. De uns tempos para cá, essa
sentença tem se repetido com maior frequência, por compreender que, certas coisas
que outrora pensava saber, eram apenas simulacros de conhecimento. Quando jovem
é mais difícil dizer – não sei, pois, a necessidade de autoafirmação, nos
obriga a saber de tudo, mesmo sem ter ciência de coisa alguma. Com o passar do
tempo, percebemos que não somos obrigados a estar informados sobre tudo, e que
não saber pode ser divertido, pois, te obriga a estudar. Em verdade vos digo: é
bom não saber demasiadamente e melhor ainda é não ser o rei da informação.
Ameniza a ansiedade, alivia o estresse, e desonera o coitado do seu interlocutor,
que não terá mais que ouvir o quanto você é antenado. O tempo pode não ser o
melhor remédio, porém, é o melhor companheiro.
Hoje sei que não sei muita coisa, só não sei se nada sei.
P.S.: Só não confunda sábio com sabido.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Os processos
Gosto de dizer que tudo está passível de mudança. Fechar-se equivale a morrer para as possibilidades outras que não aquela escolhida como identitária, definitiva. Nada o é.
A Pequena Companhia de Teatro tem no "Quadro de Antagônicos" seu procedimento metodológico para treinamento do ator e composição das personagens. Fiz parte de Entrelaços, Pai & Filho e Velhos caem do céu como canivetes e todos utilizaram esse mesmo procedimento.
Entrelaços |
Imagine o frescor de provar pela primeira vez o gosto do beijo da pessoa amada, ou experimentar o prazer provocado por uma Coca-cola com gelo e limão numa tarde ensolarada, à sombra de uma frondosa árvore. Essas experiências primeiras não se repetem, mesmo que continuemos a beijar a mesma pessoa e a tomar o mesmo refrigerante eternamente. As experiências são únicas, mesmo que a configuração possa aproximar daquela primeira sensação. Assim percebo os processos de encenação.
Velhos caem do céu como canivetes |
Podemos repetir infinitas vezes o mesmo procedimento para a montagem de nossos espetáculos, mas esse debruçar sobre a teoria na prática, num recorte único de tempo/espaço será inédito em sua configuração, sem contar com a nossa compreensão do método e da vida: mudamos, permanentemente, porque estamos em processo. Dizem que tem algo a ver com a maturidade.
O viver para mim é experienciar, sempre.
sábado, 9 de agosto de 2014
Projetando sonhos
Enquanto
apresentamos Pai & Filho [toda segunda-feira, às 19h, na Rua do Giz, 295,
com entrada franca (adoro parênteses retos)], e ainda realizaremos seminários e
leituras dramáticas, o momento é de projetar o ano de 2015. Projetos, aos borbotões,
começam a ser esboçados, confeccionados, desenterrados, reinventados no intuído
de continuar fazendo a única coisa que sabemos: teatro. Editais exigem projetos.
Projetos são desejos não realizados que sempre tivemos e que, em determinado
momento, o sistema nos autorizou a sonhar. Publicar um livro, montar uma banda,
viajar pelo país com uma peça de teatro, escrever um romance... Sonhos, que em
meados da década de oitenta estavam mais para delírios – lembrem sempre que
falo de um passado no interior do Maranhão. Hoje podemos sonhar. Posso. Claro
que sou engajado, e sei de todos os problemas que nos cercam, conteúdo do
discurso que vocês estão acostumados a ler por aqui. Sei também que se novas
políticas culturais públicas municipais, estaduais e federais eficientes não
forem implantadas corremos os risco de morrer de fome já em 2015. Contudo, quem
viveu como eu o passado de querer fazer teatro, não pode jamais se distanciar
dele ao ponto de não enxergar as conquistas conseguidas depois de tanto lutar. Hoje
a profissão é uma realidade. Outrora o amor provido pelo amadorismo era o
combustível. Foi a nossa resistência que obrigou o poder público a se lembrar
de que tem gente no país que insiste em fazer teatro. A conquista é nossa e o
resultado está aí, por isso, não me queixo. Alguns podem dizer que fazer um
projeto não é trabalho para um artista. Penso que todo projeto é um sonho indo
para o forno. Eu não consigo imaginar ninguém pensando nossos sonhos melhor do
que nós, artistas que os sonhamos. Romântico, outra vez. Mãos à obra, de arte!
domingo, 3 de agosto de 2014
Andanças de Pai & Filho
São Luís/MA →
Imperatriz/MA → Balsas/MA → Riachão/MA → Presidente Prudente/SP → Guaramiranga/
CE → Natal/RN → Santos/SP → Rio de Janeiro/RJ → Timon/MA → Teresina/PI →
Sobral/CE → Fortaleza/CE → Mossoró/RN → Santa
Inês/MA → Belém/PA → Castanhal/PA → Parnaíba/PI → Palmas/TO → Porto Nacional/TO
→ Maceió/AL → Teotônio Vilela/AL → Palmeira dos Índios/AL → Arapiraca/AL →
Vitória/ES → Caxias do Sul/RS → Passo Fundo/RS → Ijuí/RS → Santa Maria/RS →
Porto Alegre/RS → Cuiabá/MT → Feira de Santana/BA → Recife/PE → Macapá/AP → São
João do Miriti/RJ → Blumenau/SC → Itajaí/SC → Tubarão/SC → Paranavaí/PR →
Curitiba/PR → São Paulo/SP → Belo Horizonte/MG → Porto Velho/RO →
Florianópolis/SC → Rio do Sul/SC → Lages/SC → Chapecó/SC → Caxias/MA →
Itapecuru Mirim/MA → São Bernardo do Campo/SP → Botucatu/SP → Franca/SP → Rio
Claro/SP → Marília/SP → Piracicaba/SP → Campinas/SP → Juazeiro do Norte/CE → Crato/CE → Sousa/PB.
136 apresentações, em 59 cidades de 20 estados, durante 05 anos de espetáculo, e você ainda não viu. Aproveite as apresentações que acontece regularmente em São Luís, na rua do Giz, 295, na Praia Grande.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Mais um processo
Terça-feira começo o processo de montagem do meu novo espetáculo-solo, com estreia para o dia 29/09 (segunda-feira), às 19h, na sede da Pequena Companhia de Teatro.
Meus processos, quando estou sozinho, são sempre uma incógnita e o resultado, comumente hermético. Este será diferente. Todo esquematizado na pré-expressividade e expressividade, observadores, roteiro escrito e... não será hermético. Certamente o espetáculo mais leve que farei.
Não tenho temores ou pudores, pois acredito no que faço e acredito também que artista que se preza, tem que dar a cara para bater. Minha humildade franciscana me escancara às críticas. Cresço com elas e acho extremamente importante ouvi-las dos meus pares, pois aqui nesta terra a dificuldade em conseguir um diálogo com os fazedores teatrais existe. Entro em uma seara diferente da minha, mesmo passando pelas sábias mão de Lucio Tranchesi, Alexandre Luís Casali, Fernando Vieira, Ciléia Biaggioli e Ricardo Puccetti.
Serei criterioso em repassar o processo semanalmente por aqui. Os registros serão importantes para montagens posteriores, pois meu desejo continua a ser o abismo.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Um homem cheio de novidades
E aí, quais as novidades? - Sou um homem sem novidades. Meus dias se repetem, respondo.
Tudo muda. Hoje, sou um homem com novidades. Aliás, este ano está se mostrando assim. A sensação de "pela primeira vez" está recorrente: sede nova, reapresentação de Pai & Filho em São Luís depois de longos anos, manutenção de repertório (desde a década de 80 que não sentia mais esse frisson), escassez de recursos para sobrevivência, solidões noturnas.
Há uma certa ideia de reinvenção em tudo isso. Ocupar o espaço urbano e espetáculo-solo, por exemplo, não reforçam ineditismos, mas estabelecem relações com a recuperação de ações passadas, como se o fato fosse negar a necessidade da novidade. Aliás, o que é novo? Talvez a novidade se estabeleça no acréscimo do tempo, em que o simples fato de estar se estabelece enquanto novo. Tudo que olhamos é novo, experienciamos, tocamos. É que nunca fora olhado, experienciado, tocado, com o acúmulo de informações que somos bombardeados a cada instante.
Dessa forma, consolido-me como um homem de novidades. Tudo é novo enquanto envelheço. Este ano ainda promete mais, como os que virão: Pequena Companhia de Novidades.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Você sabia que...
... o espetáculo VELHOS CAEM DO CÉU
COMO CANIVETES foi selecionado para o 21° Festival Nordestino de Teatro de
Guaramiranga? A Mostra Nordeste, que acontece de 06 a 13 de setembro, recebe
espetáculos de todos os estados nordestinos e a Pequena Companhia de
Teatro será a representante maranhense na edição de 2014. Apesar da recente
estreia, esta será a quinta participação do espetáculo em uma mostra ou
festival de teatro, que já totaliza vinte e oito apresentações.
domingo, 29 de junho de 2014
Estamos em pleno lar
A retomada das
nossas atividades, depois do recesso provocado pela copa do mundo, dar-se-á dia 21
de julho, com o início da temporada regular de Pai & Filho – pela primeira
vez na Sede da Pequena Companhia de Teatro. Com isso, a configuração espacial
do nosso teatro, área multiuso, sala de tortura, lugar de cena, ou qual alcunha
você queira dar ao salão onde você prestigiou o espetáculo Velhos caem do céu
como canivetes, mudará completamente – confirmando a versatilidade do espaço e
enchendo meu tempo com uma alegria incomum. O tema, e o trabalho que ele demanda,
são meus entretenimentos atuais. Entre um jogo e outro, ou com uma TV a
tiracolo, me divirto reconfigurando o ambiente. Subo as escadas e instalo uma
bambolina aqui, um cabo de aço acolá, uma corda ali, uma arquibancada lá, e o espaço
onde outrora caíra um velho ser alado vai se transformando no ambiente de um
pai enfurecido. O que propomos com a nossa sala de teatro é próximo à vivência
que tive na cidade de Catania – Itália, onde toda a estrutura técnica de maquinaria
(varas, contrapesos, cabos, cordas) foi herança vinda do mar, extraída da
experiência adquirida nas embarcações, quando o teatro, ao utilizar mão de obra
oriunda do porto, sem perceber, assimilava para si a expertise do homem do mar,
com suas cordas, nós, mastros, roldanas e força. No teatro Massimo Bellini,
apesar de ser um clássico teatro de ópera, não existe maquinaria fixa, e toda a
estrutura técnica é montada e remontada de acordo com a necessidade do
espetáculo que será apresentado. Atravessado o Atlântico, essa experiência fecunda
a proposta de uma sala forneada com as mesmas cordas, ganchos, roldanas e nós
que um dia conduziram os invasores da nossa Upaon-Açu. Você não vê,
nem repara, mas por trás de cada apresentação esconde-se um torvelinho de
fatores que tornam o teatro esse incomensurável ambiente de sensações. Mire e
veja.
domingo, 15 de junho de 2014
Teatro & Futebol
O futebol me abandonou, a arte não. No
início da década de noventa eu viajava para Araguaína/TO com uma caixa de
livros, entre eles a prosa completa de Borges – presente que me acompanha desde
1987 –, para dividir uma república com jogadores de um time de futebol cujo
nome minha memória se ocupou de não reter. Nesse então, morando em Balsas, era
atleta e artista simultaneamente, fazendo teatro, música e literatura, há
alguns anos. A rotina de artista, em Balsas, me fazia ensaiar até às quatro da
manhã. A mudança para uma rotina exclusivamente
atlética, em Araguaína, me fazia madrugar às cinco da manhã, para treinar. O
despertador escolhido pelos meus companheiros era um som sintonizado na rádio
local que gritava: eu não vou negar que sou louco por você! Acredite. Deixe
sair aquele sutil sorriso no canto da boca: sim, também tive o sonho de ser
jogador de futebol. Não me pergunte por que motivo, mas este era o meu
principal desejo. Não durou muito, ou seja, o teatro que faço é consequência do
meu maior fracasso. Recentemente, na plateia de Velhos caem do céu como canivetes, um espectador comentava: só conhecia você como o argentino,
cabeludo, bom de bola. Além de estufar meu peito, o fato serviu para confirmar
meus predicados futebolísticos para minha companheira – sempre reticente com
minhas possíveis fabulações sobre o passado. Sim, eu era bom. Considero-me melhor
jogador no passado do que sou encenador no presente – se isso quer dizer alguma
coisa. Por isso, não saberia apontar por que não sou um jogador aposentado.
Talvez a aleatoriedade defendida pelo Ser Humano, personagem do nosso último
espetáculo, seja a única maneira de explicar o encenador de hoje. A
aleatoriedade como que minha vida e trajetória foram constituídas é digna de
nota... O gordo prólogo que aqui escrevo só existe para tentar explicar a
sentença que motiva esta postagem: não acompanharia sessenta e quatro peças de
teatro em um mês de festival, mas assistirei aos sessenta e quatro jogos da
copa sem o menor constrangimento. Mas, como sou uma ficção, não dê muito
crédito às anedotas que constroem o roteiro da minha vida. Y dale!
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Recesso
Do filme "Sonhos", de Kurosawa |
As apresentações estão suspensas. A realização da Copa do Mundo no Brasil sentencia que todos gostam de futebol. Não me espanta. Mês para produzir, pensar, refletir e executar ações adiadas há tempos. Planejamos o próximo semestre: volta de Pai & Filho à cena teatral ludovicense - oportunidade para alguns tantos assistirem a um outro espetáculo. Jorge C. tira a barba e eu a deixo crescer em meu rosto. Muda a energia, as personagens. Os atores são os mesmos; o espaço, não. Primeira vez de Pai & Filho na sede da Pequena. Tudo é muito recente este ano. Mudança de ciclo, amadurecimento, pesquisa. Tenho minhas inquietações e elas repercutem em meus sonhos; muitos sonhos, todos eles emblemáticos. Mesmo gostando de rotinas, a cada ano que passa eles têm se tornado atípicos. Para quem não curte surpresas, estou bem servido delas. Se me queixo? Aguardo o desenrolar das horas. Se sofro? Abraço todas as sensações que meu corpo experimenta.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Esse ator
Se eu sou um tipo, sou do tipo inquieto, e essa inquietude nunca é o suficiente. Buscar sempre, parece-me, é tarefa indistinta de formação: se estou vivo, busco. Contrário disso é a morte, em todas as suas possibilidades. Sempre tenho dúvidas sobre se a profissão do artista chega a ser privilégio ou maldição. Tenho dúvidas também se a minha angústia mais ajuda do que atrapalha. A exigência é desmedida, a ansiedade presente, os processos cíclicos. Não chega a ser um queixume. Os pensamentos evoluem para a palavra escrita. A palavra escrita é manifesto inconteste. Prevalece o dilema entre o de dentro e o de fora. Tudo é acúmulo com possibilidade de vir a ser descarte. Rasgar, colar, emendar, torcer, estirar. O corpo carece de morada e ao mesmo tempo ele é a própria morada. Habitar e ser habitado. O quê nos difere? O quê nos distancia? Assumir a minha unicidade não faz de mim um tolo. Talvez uma descrença tardia na minha incapacidade de recitar um teatro que desacredito como transformador. Quem me transforma? Quem me mobiliza? Esse todo bebo em partes.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
V(ai)(er)dades e mentiras
Para compreendermos as coisas, estabelecemos parâmetros de comparação. Em nossa sociedade tudo é dual; forças antagônicas que nos fazem posicionar entre pois pontos equidistantes: bem e mal; claro e escuro; vida e morte; verdade e mentira.
O teatro envolve a ambos. É ficção, mas espelha sua diegese, suas dramaturgias, na realidade; tem que ser verossímil.
Alguém disse uma vez que as verdades são ditas quando as pessoas que as ouvem, estão dispostas a ouvi-las. Traduzo como maturidade, a ponto de saber ouvir o que não se quer ouvir. O Teatro caminha por aí em duas vertentes, acho. Uma delas é sua forma e conteúdo que atraem ou repelem o espectador. Gostar ou não gostar tem a ver com esse princípio: não se convencem de que era uma verdade; não a compram como tal. Uma história mal contada. Uma mentira. Comumente queremos ouvir verdades; convencionou-se que as mentiras fazem mal. Então, mentir é ruim e não mentir é bom. E quando mentimos para nós mesmos quando comentamos sobre algo que achamos bom, sendo que achamos ruim? Mentiras contadas permanentemente, acabam se transformando em verdades. Daí minha conclusão que quando mentimos para os outros, também mentimos para nós mesmos. A necessidade de verdade no teatro não se restringe aos que estão em cena, mas também aos que espectam. A maturidade necessária para se ouvir a verdade é alicerce para o fortalecimento do movimento teatral num dado espaço e tempo. Quem faz teatro precisa ser criticado, precisa querer ouvir. Quem vê teatro precisa criticar, precisa ser autêntico e menos apaziguador.
Desistir também é uma alternativa.
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