sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O diretor, o ator e o público


O diálogo entre o primeiro e o segundo resultará na aproximação ou distanciamento do terceiro. As dúvidas sobre a excelência na performatividade dos primeiros cercará toda a fruição do terceiro. As pistas para a elucidação da justificativa do existir do espetáculo podem não ser percebidas.

Não há sucesso ou fracasso. Há um diálogo entre os três que sempre será ruidosa. São seres que carregam em si a sua visão da história do mundo, e seus corpos reescrevem sua história a partir da experiência vivida diariamente. O resultado? Visões diferentes de um ato, que nunca será o mesmo. Teatro é evento que deve ser prestigiado ene vezes pela mesma pessoa. Talvez assim ela possa se aproximar do trabalho executado pelo ator e pelo diretor.

domingo, 25 de agosto de 2013

Acredite, se quiser...

Dia 04 de outubro estreia o espetáculo Velhos caem do céu como canivetes, na nova sede da Pequena Companhia de Teatro – se o IPHAN, a Blitz Urbana, a SEMFAZ, o Corpo de Bombeiros, o Cartório e o Santíssimo Escabau deixarem. Sim, estou apostando todas as minhas fichas nessa data, apesar de saber que ainda dependemos de alguns procedimentos, tanto artísticos, quanto técnicos e burocráticos. Os ensaios vão muito bem e vislumbro estrear com, no mínimo, dez ensaios preparatórios finais – algo como realizar vinte apresentações internas antes da própria estreia. Até lá também teremos várias apresentações de Pai & Filho, no estado de São Paulo, pelo projeto Viagem teatral, do SESI, além do Troca-Troca no Nordeste (encontro para oxigenar nosso fazer, promovido pela A Outra Cia. de Teatro, em Salvador/BA), onde Cláudio será nosso representante. Como veem, estou otimista porque sou pessimista. Não serão alguns extintores, meia dúzia de protocolos ou algumas centenas de latas que irão aplacar nosso modesto desejo: o de recebê-los bem, com um bom espetáculo. 

domingo, 18 de agosto de 2013

O que pensa um diretor em fim de montagem?


E tudo ganha forma. Como tenho insistido aqui, o caos criativo é o melhor caminho para a concepção, embora ele nos atropele com inseguranças, medos, dúvidas, receios – pântano natural de quem cria sobre o vazio. O momento do caos é, sem dúvida, o pior momento da montagem, o mais dolorido, o mais assustador. Esse momento inicial passou e tratei dele anteriormente – basta ir rolando o blog e as revelações surgirão. Agora, não mais. Agora, tudo é acendimento. O vácuo deixado pelo caos nos dá carona e as soluções surgem organicamente. É como se o momento de caos servisse para concentrar toda a fortuna criativa num caldeirão de significados e, a partir daí, tivéssemos uma fonte de ideias disponíveis e oferecidas no exato momento em que são necessárias. Esse é o motivo do sereno fervor que me toma nos últimos dias. Tudo se resolve com uma precisão sígnica que me faz respeitar ainda mais o processo. Se a dor foi a mais profunda já vivida por mim em um início de montagem, o prazer é diretamente proporcional a ela, e cada hora de ensaio, cada jornada de confecção, cada reflexo produzido pela posição de um refletor migram da angustia para a serenidade. Este é o momento presente. O melhor de tudo é que não tem mais volta. Agora tudo é definitivo, e o espetáculo já diz como será. O espectador gostará? Por enquanto eles têm nosso suor e estas parcas palavras. É o que tem pra hoje. Mas não se animem, o amanhã ainda demora.

PS: Quem me conhece deve estar questionando meu conceito de caos (risos).
 

domingo, 11 de agosto de 2013

Antígua e Barbuda


Penso que as marcas de expressão que carrego no rosto formam o mapa da minha trajetória. Aprecio cada ruga, cada cicatriz, cada mancha, porque dizem de um tempo vivido, de momentos perpetuados, de passos dados em busca do presente. O Ser Humano, do espetáculo Velhos caem do céu como canivetes, também carrega as suas marcas no rosto, contudo, o mapa traçado é compreendido de desalento, frustrações, dores, desilusões – riscos na pele que revelam a alma. Diferentemente de Pai & Filho – quando o espetáculo apresentava duas personagens mais arquetípicas, e os antônimos opressor & oprimido, vítima & algoz, eram marcantes e delineavam a trajetória dos seres em questão – o novo espetáculo caminha para apresentar personagens mais sutis. A permanente indefinição da origem do Ser Alado desconstrói a imagem arquetípica angelical e oferece maiores nuances. Anjo? Ave? Sonho? Homem? Demônio? Delírio? Esse ser com asas guarda consigo o mistério da própria existência. Cabe a um mísero ser humano decifrar o enigma, trambalear no ardil construído pelo voador, sem deixar-se atordoar. Ou seria apenas um delírio místico? Um desejo mítico? Se a fome é a pior das dores, de um ser fragilizado por ela tudo pode se esperar. Essa estrutura dramatológica viabiliza uma investigação criativa mais particularizada das personagens e oferece para os atores um arsenal mais delicado de instrumentos para a construção dos seres. Nesse astucioso momento do processo nos encontramos hoje. Costurando a teia que organiza estas personagens para que alcem voos íntimos, complexos e duradouros.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O texto


Pobre do ator que tem dificuldade em decorar um texto. Pobre de mim. 

Trauma. Sou do tempo em que éramos obrigados a decorar tabuada, datas comemorativas e por aí vai.

Demoro para memorizar textos. Demanda um certo tempo e maneirismos. Imagino que cada um tenha os seus. 

Hoje devorei as últimas falas de Velhos... Sempre são muitas, já que somos somente dois em cena. 

Não tenho medo de brancos. Já tive alguns, mas sempre reinvento o texto, altero a ordem, deixo para o outro ator se virar. Mas, também sou daqueles que depois dificilmente esquece. Lembro-me ainda de textos interpretados nos festivais de poesia, crônica e conto realizados em Imperatriz e de algumas falas de espetáculos que já atuei. 

Em Velhos..., a possibilidade de se ouvir um texto bem falado é enorme, já que a segurança da memória possibilita uma oscilação maior na intenção da fala.

Do texto, restaram algumas páginas e parte da espiral da encadernação. A gata que reside em meu quarto devorou-o acintosamente.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Oxigenação

Estamos te esperando.
Processo, montagem, apresentações. Nada de novo. Entretanto, quando essas etapas são de dois espetáculos diferentes, há uma certa alteração comportamental no corpo do ator. Ele se reduz para ampliar, como se precisasse diminuir a tensão; alterar o foco para dilatar a percepção do ofício. 

Há algum tempo que a Pequena não circula junta, não se distancia da sala de ensaio nossa de cada dia. O Cansaço e a sonolência dão espaço para outras sensações.

O crescimento, talvez, seja a percepção da capacidade de sempre se superar, para não cometer os equívocos do desânimo, da ineficácia, do comedimento.

São Bernardo do Campo (SP), onde estamos no momento, começando a jornada de apresentações de Pai & Filho pelo SESI-SP, recupera um pouco isso. 

Agora preciso me queixar de outra coisa...