Um dia desses ouvi, não lembro onde,
que o blog Garotas Estúpidas tem uns setenta e cinco mil acessos por dia. O
nosso tem uns setenta e cinco, sem os três zeros finais. Como três zeros sozinhos
não valem nada, empatamos. Pelo que entendi, o blog fala de roupa e maquiagem.
O nosso também fala de roupa e maquiagem. E de cenários,
luzes, cores e gente. Uma pergunta me tomou de assalto. O que lemos atualmente?
Lembro que, no interior do estado, três décadas atrás, quando você apresentava
uma revista para um analfabeto e perguntava se sabia ler, ele respondia: “sei
ler as figuras”. Às vezes tenho a impressão de que no mundo virtual, nas redes
sociais, na blogosfera, estamos “lendo as figuras”. Por muito tempo se defendeu
que a grande rede fomentava a leitura e a escrita. Cheguei a acreditar nisso.
Mas, acreditei em tanta coisa dita por políticos, partido e governos nos
últimos vinte e cinco anos, que minha inocência já ganhou status de ignorância.
Estou fazendo uma avaliação pessoal sobre a informação e desinformação contida
no mundo virtual. O quanto ele favorece meu conhecimento, o quanto retenho da
avalanche de con(ou sem)teúdo. O quê descuido enquanto cuido disso? Convido
você para fazer o mesmo. Temo que estejamos perdendo um tempo que nem São
Longuinho conseguirá recuperar.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 21 de outubro de 2012
6° Jornada – Rio do Sul, Lages e Chapecó
São Luís → Brasília → São Paulo → Florianópolis
→ Rio do Sul. Depois de quinze horas de viagem chegávamos ao destino, início da
nossa terceira visita a Santa Catarina. Estado que mais vezes recebeu Pai &
Filho: Florianópolis, Blumenau, Itajaí e Tubarão, antes das três cidades desta
jornada. Apenas o Maranhão superará os catarinenses até o final do ano, com
oito municípios visitados. Quando faço essa conta, não falo somente do Palco
Giratório, trato da trajetória geral do espetáculo.
Três apresentações, três debates e uma oficina
de dramaturgia. A cesta básica não alimenta porque carece de teatro. Espetáculo circulando, chegando às pessoas,
oficina e debates como instrumento de aproximação, ações efetivas que provocam
um regozijo incalculável. Esta foi nossa última viagem pelo Palco Giratório
além das fronteiras maranhenses. Restam-nos diversos desafios por superar,
contudo, o principal foi batido: Pai & Filho estreou há mais de dois anos e
meio e continua se apresentando.
sábado, 20 de outubro de 2012
Teatros & públicos
Respeitosamente venho, através desta, informar que existem teatros e públicos bem distintos. A cada um deles é destinado um outro para assisti-lo. Essa diversidade, dizem, é que faz a riqueza (sic) do teatro. Enganam-se. A fortaleza está na continuidade da proposta, em que o tempo se encarrega de amadurecer ou apodrecer o espetáculo, as ações da companhia/grupo. Um espetáculo pode ser instigante. Porém, é a soma de vários trabalhos que farão um tipo de teatro ser prestigiado, valorizado, reconhecido. Cada companhia tem seu teatro e público. Não existe público de teatro, mas sim públicos para teatros. Sou ator e expectador e me dou o direito de não prestigiar certos tipos. Gosto do que faço. Gosto para quem faço. Não me resta mais nada a não ser viver.
domingo, 14 de outubro de 2012
C®iatividade
Ainda adolescente, ou nem tanto,
quando passava por algum bloqueio criativo, entrava debaixo de uma grande mesa
que havia na pizzaria Tutti Frutti – local onde amassava e assava pizzas
enquanto pensava em Kantor e Grotowski. Essa mudança
inusitada de posição, de perspectiva, de olhar, me auxiliava a ver as coisas de
outra maneira, subverter o ponto de vista, deslocar a estruturação do
pensamento, colapsar o raciocínio lógico. Funcionava. Com o passar do tempo, as
estratégias foram mudando, sempre no intuito de oxigenar a criatividade,
matéria-prima do meu ofício. A arte teatral, como expressão artística, é mais
desafiadora do que qualquer outra. Tudo o que se cria se esvai com a morte do
espetáculo e o que fica não supera uma amena lembrança. O golpe criativo de um
cineasta perpetua-se. Mesmo sendo medíocre, bastará um único lampejo, que o
eleve à condição de realizar um filme significativo, para consagrá-lo. A
revolução criativa de um escritor será lida por séculos. Se o autor não for
genial, ainda assim, sua obra será "não lida" por séculos. Todavia, nenhum jovem
espectador poderá dizer que respirou a genialidade de Victor García, no máximo ouviu falar
ou contemplou algumas estáticas imagens fotográficas. No teatro, a criatividade
sempre será exigida quantitativamente, porque uma peça nada mais é do que a
anterior à próxima, demandando do artista um vigor criativo
continuado. Para manter o frescor inventivo, sempre me dispus, mesmo que
fosse debaixo de uma mesa. Sei que, entre os leitores, há alguns jovens teatreiros com
opiniões inexoráveis. Estejam atentos à ruptura, à mudança de rota, aos
desafios de se reinventar, de surpreender a si. Mantenham-se fecundos para
poder permanecer produzindo sempre, senão padecerão no inferno do esquecimento
ou no purgatório da lembrança, contudo, padecerão. No teatro, só atinge o céu
quem caminha permanentemente.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Beba Pepsi-Cola
Planejar é tudo – dizem. A partir dele os objetivos são
alcançados, as tentativas de frustrações anuladas, as perspectivas ampliadas, os impactos
dos imprevistos minimizados. Tudo contrário à vida. A falha, a incerteza, a
dúvida, a dor, a perda, a surpresa estão mais relacionados com a essência
humana do que todo o resto. E vivemos a elaborar projetos, ler editais para
subsidiar as produções e nossa arte. Existe uma alma do teatro amador que o
profissional mudou ou perdeu. É que os pais morrem e os filhos ficam. Nadar
contra a corrente tem disso. Meu amigo Lio Ribeiro já dizia: “Você mina sua
vida de atitudes que te fazem assim, infeliz”. Falava acerca das relações
afetivo-amorosas que não passam de uma estação. Gosto de passar fome. Já
pratiquei esse “esporte” em São Paulo, Imperatriz, João Pessoa, Salvador. Vem à
mente o nome de um espetáculo representado por duas de minhas irmãs, no
interior do Pará: Sede de viver... Antes de fechar o pano, a última fala: “Até
o diabo tem sede de viver”. Bonito isso. Gosto da morte em vida, em que cada
dia perece algo (qualquer que seja ele) para dar guarida a outro que chega. E
eu a observar tudo isso. O teatro é o espaço do desvario; da perda e da
conquista.
domingo, 7 de outubro de 2012
Plateias & plateias
Este escritor que vos fala, mais
ensaísta que cronista, enfadonho por opção, tem ouvido comentários, lamentos e
manifestações a respeito da ausência de público para as artes em São Luís. Vou
na contramão do discurso. Sentença: essas são nossas plateias. Inteligentes,
assíduas, ávidas e de dez, cinco, quinze, sete, trinta espectadores. Quem é que
ainda não entendeu isso? Fazemos teatro (música, dança, artes visuais) para essas
pessoas. Há tempos que a Pequena Companhia de Teatro monta espetáculos com
lotação máxima de quarenta, cinquenta espectadores, essencialmente por
conhecer essa realidade. O que fazemos, eu, você, todos nós, não trará
transformações no número de espectadores hoje, nem amanhã, nem depois. Estamos
trabalhando para mudar as coisas a longo prazo, daqui a cinquenta anos. Essa é
nossa função. Esses cinco espectadores não se tornarão cinquenta amanhã, nem
quinhentos depois de amanhã. Mas são nossas ações que viabilizarão as plateias
de quinhentos espectadores para os artistas que virão nas próximas décadas, não
tenho a menor dúvida. Essa é nossa missão. Enquanto “Gaviões” do Forró coloca
sessenta mil espectadores em um único dia, Pai & Filho fez mais de oitenta
apresentações para conseguir seis mil. Benza deus! Porque, com O
Acompanhamento, meia década atrás, nos divertíamos contando plateias de cinco,
três, sete ou nenhuma pessoa. Contudo, essa falta nunca foi problema, só nos
auxiliava a refletir sobre nossa realidade, a reafirmar nosso compromisso. O
que não tem preço é o delicioso retorno qualitativo que esses espectadores nos
dão. É com essas pessoas que dialogamos. São essas pessoas que estão vivas,
pulsantes e comprometidas com essa transformação. São elas que ressignificam
nossa obra. São elas que querem nos ouvir. São elas as responsáveis pela multiplicação
de espectadores no futuro. Aproveitemo-las. A nova sede da Pequena Companhia de
Teatro abrirá suas portas para essa plateia e, novamente, não ultrapassará os
quarenta lugares, portanto, reserve seu ingresso. Esse é o nosso legado. Quem
ainda não entendeu isso, ainda não entendeu seu ofício. O lamento só trará
espectadores por compaixão, e a pena funciona melhor como instrumento de
escrita. Agora, se queremos discutir os motivos sociopolítico-culturais dessa
realidade, aí sim, vale a pena usar a pena, em reflexões, ensaios, tratados ou
na tradicional conversa de boteco.
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