domingo, 1 de abril de 2018

Uma distribuidora de encontros e reencontros


Amanhã, mais precisamente às 6h da manhã, a Pequena Companhia de Teatro inicia mais um mergulho pela imensidão do território brasileiro, numa caminhada de interlocução permanente – principal motor de sobrevivência criativa para um grupo sediado num estado como o Maranhão, que tem o superpoder de tornar invisível o teatro de grupo. A jornada faz parte do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, que patrocina a circulação de 57 grupos de teatro pelo país, durante os anos de 2018 e 2019.

Mantendo o nosso ideário de ocupação, a circulação que propusemos não se limita à estada na cidade durante os dias de apresentação e o perpasse das atividades complementares nos outros horários disponíveis. Passaremos uma semana em cada uma das cidades; sempre na perspectiva de estreitar o enlace com a comunidade, de entender a urbe e sua lógica teatral, de tentar estabelecer uma lógica de diálogo que justifique a nossa caída em Alta Floresta/MT, Primavera do Leste/MT, Dourados/MS e Campo Grande/MS.

Serão 12 apresentações de Velhos caem do céu como canivetes (3 por cidade), 12 debates após as apresentações, 4 oficinas sobre o Quadro de Antagônicos, 4 ações de formação de plateia em colégios das cidades, e 4 fóruns permanentes de reflexão, com os grupos Teatro Experimental, em Alta Floresta; Teatro Faces, em Primavera do Leste; Grupo Casa, em Campo Grande; e Cia. Theastai, em Dourados.

É na seleção das cidades por parte do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura que concentro a reflexão de hoje: o conceito de aprofundamento, continuidade, estreitamento e entrelaço que adivinho no critério de seleção do edital. Das quatro cidades que visitaremos, duas fizeram parte da nossa circulação pelo mesmo programa, em 2016, com o espetáculo Pai & Filho e a nossa oficina de dramaturgia: Primavera do Leste e Campo Grande. Ou seja, as duas cidades, em um curto espaço de tempo, terão contato com todo o repertório recente, e toda a conceituação metodológica de um grupo de teatro do Maranhão, fato praticamente impossível de acontecer sem um olhar atento à qualidade de atravessamento que essa opção oferece para amenizar a fugacidade inevitável que toda circulação sutilmente esconde, e que tanto nos aflige.

No caso, não. Essas cidades ancorarão na vida da Pequena Companhia de Teatro. Os grupos de teatro que tiveram a oportunidade de passar diversas vezes pela mesma cidade sabem do que estou falando. É diferente. A relação é diferente. O olhar é diferente. O espectador vê o grupo de maneira diferente, tem a possibilidade de observar a trajetória, de estabelecer relações com o repertório, de dialogar com a cena com maior integridade; o teatrista tem contato com os métodos, tecnologias e conceito, pode cotejar obras e procedimentos, discutir caminhos; um sem-fim de sabores e digestões que um encontro não pode proporcionar, e que só se efetiva com a delícia do abraço de um REENCONTRO. Adivinho essa linha curatorial, e quero acreditar que acerto, pois a nossa alegria com toda a circulação é inenarrável, mas a satisfação de retornar se narra facilmente com o conceito, vida e sentimentos de um verbo: voltar.

A partir de amanhã, e pelos próximos 29 dias, alargaremos os números afetivos que arrolam a nossa existência. Ao término dessa jornada, serão 76 apresentações de Velhos caem do céu como canivetes, em 23 cidades de 14 estados; 31 turmas da oficina sobre o Quadro de Antagônicos, em 23 cidades de 11 estados; e, se os produtores locais botarem quente, conheceremos também o espectador de número 5.000 de Velhos caem do céu como canivetes – para uma peça apresentada preferencialmente com plateias reduzidas, é um número a ser comemorado e prepararemos algum tipo de surpresa para a felizarda ou felizardo. Aviso: repeti três vezes o nome do espetáculo porque, se você clicar no vermelhinho de cada um, terá contato com três críticas diferentes escritas sobre ele.

Claro que as outras reflexões que a iminência da viagem provocou, e as outras que a nossa circulação pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura ainda vai provocar, você acompanhará aqui. Todo domingo, após o término de cada uma das ocupações, você terá uma descrição e as respectivas elucubrações provocadas pela experiência – narrativa que você vem acompanhando desde o dia 28 de julho de 2009, primeira postagem deste blog.

4 comentários:

Unknown disse...

UMA COMPANHIA OPORTUNA QUE METE ORGULHO EM SÃO LUIS DO MARANHÃO. QUEM DERA EM CADA ESTADO NORDESTINO ENCONTRAR UM LEGADO DESSA ENVERGADURA. FALO POIS JA TIVE O PRIVILÉGIO DE CRUZAR COM A COMPANHIA EM DOIS PROJETOS DO SESC: SESC AMAZÔNIA DAS ARTES E PALCO GIRATÓRIO. DESTACO O CUIDADO "SEMPRE" QUE ESSA COMPANHIA TEM EM MOSTRAR EM SUAS PRODUÇÕES NO QUE SE REFERE A CENOGRAFIA, FIGURINOS, ADEREÇOS, DIREÇÃO AFINADA E SOBRETUDO A DRAMATURGIA. LIDO COM VÁRIAS PRODUÇÕES AQUI NO ESTADO DO AMAPÁ JA CONTABILIZADOS 11 ANOS, E CONFEÇO QUE ESSES CAPRICHOS QUE ENCONTRO NA PEQUENA CIA., NÃO OS ACHO COM FACILIDADE EM OUTRAS PRODUÇÕES QUE POR AQUI APORTAM. A PROVA DE TUDO ISSO É O SUCESSO DAS PRODUÇÕES APOSTADAS PELA CIA.
PARABÉNS QUERIDOS E VIDA LONGA!!!!
O ESTADO DO MARANHÃO AGRADECE.
A CULTURA TEATRAL VIBRA COM VOCÊS!
EVOÉ!!

GENÁRIO DUNAS
ARTISTA E PRODUTOR DE TEATRO
SESC MACAPÁ/AP

Marcelo Flecha disse...

Querido Genário! Depois de uma viagem longa e cansativa como a de hoje, até chegar em Alta Floresta, e ainda ministrar oficina até 11 horas da noite, abrir o blog e ler um comentário como o seu é tão reconfortante que gera a certeza de que todos os esforços feitos fazem total sentido! Obrigado pela generosidade das palavras, mas, principalmente, pelo delicado olhar sobre o nosso trabalho! Continuaremos resistindo, sempre!

Rodrigo França disse...

Parabéns pelo teatro de grupo! Pela minhas pesquisas e conforme tens apontado por sua experiência, são essas atitudes que garantem a longevidade do grupo: estar em diálogo e se abrir para a comunidade! Algo que ainda é pouco visto nos grupos locais. Não seria isso a kriptonita para esse superpoder na invisibilidade?

Marcelo Flecha disse...

Boa, Rodrigo! O diálogo é a nossa kriptonita para combater esse nefasto superpoder!