A urgência de encontrar
pontes de diálogo, neste momento de aridez cultural forjada pela ausência de
políticas públicas, promove um exercício criativo, provocando os grupos de
teatro do país a saírem da caixinha e buscarem mecanismos de interlocução
outros que os apresentados nos últimos anos.
Recentemente participei do
seminário Conversas Teatro em Movimento, promovido pelo Programa Petrobras Distribuidora
de Cultura, em São Paulo, onde foram anunciados os 57 espetáculos, dos 647
inscritos, que circularão pelo país com o patrocínio do programa, em 2018 – dentre
eles, nosso Velhos caem do céu como canivetes. A notícia é requentada, mas a
reflexão pretende munir-se de um anacrônico ineditismo para tentar enredar o
leitor na teia de inutilidades que normalmente teço para manter-me fiel ao
propósito de fazê-lo perder tempo.
O encontro promoveu a
reunião de grande parte dos grupos de teatro do país que são referência para
nós, seja pela produção artística, seja pelas formas organizacionais, seja
pelos mecanismos de resistência desenvolvidos.
Como já confessei aqui, esse
tipo de reunião me torna um vampiro. Quando me encontro entre colegas que
celebram a mesma sorte de viver de teatro e padecem das mesmas agruras, passo a
vampirizar cada reflexão, cada problematização; tento extrair de cada papo, de
cada discussão, o máximo que minha burrice permite; procuro dialogar até que a
síntese seja a mais razoável possível, sem perder de vista sua condição de nova
tese. Um vampiro. Vampirizo meus pares sem pudor, na tentativa de extrair deles
aquela singular sabedoria que só se revela num papo entre amigos.
Nesse tipo de seminário,
reunião, palestra, colóquio, o que está posto formalmente sofre o desafio de
conseguir superar em importância tudo aquilo que é dito nos bastidores, nas
entrelinhas, nas camadas afetivas; fazendo-nos suspeitar que a relevância da
ação esteja naquilo que aparentemente é a simples estrutura social que permite a
sua viabilidade: o encontro. Não que o seminário em si não tenha valor, apenas
pontuo valores diferentes. É como se a estrutura do pensamento apresentado formalmente
nas mesas propostas só encontrasse tangibilidade nos sussurros da
informalidade.
Suspeito que os promotores
do evento tenham total consciência da importância do atravessamento entre o
formal e o informal, e o quanto um retroalimenta o outro, com a especificidade
que cada qual traz para a construção de um pensamento estruturante para o
teatro de grupo do país.
Na busca de pistas visando
encontrar alternativas para enfrentar o delicado momento vivido pelos grupos de
teatro de pesquisa, me deparei com uma singela, óbvia, contudo potente: o
rastro, a pegada, a marca. Toda pegada é uma pista do trajeto seguido por
alguém. Ao deixarmos o nosso rastro de trabalho, de enfrentamento, de
resistência, sem perceber estamos deixando pistas para que outros consigam
superar obstáculos, experimentar alternativas, atrair outra sorte. Quando a
Pequena Companhia de Teatro resiste, insiste e não desiste, está deixando uma
pista, um rastro passível de se seguir para encarar situações similares, mesmo
que por companhias diferentes. Da mesma forma, ao entender as pegadas deixadas
por coletivos que observamos, nós também vamos reconduzindo trajetórias,
suspeitando dos atalhos, atravessando pontes, ligando o tempestuoso presente ao
futuro próspero.
Não existe um único encontro
que não deixe em mim uma marca. Logo, meus queridos amigos vão deixando rastros
das suas experiências, pegadas que posso seguir para amortizar o peso da
existência. Por isso agradeço a cada um deles, meus contrafeitos mestres – como
salientei no link que você não abriu e que elucida a conclusão desta postagem.
5 comentários:
Faço um paralelo com a Academia: no que diz respeito à mim, tenho mais carinho pelo aprendizado sobre arte nas rodas de conversa entre amigos,nas discussões sobre a natureza da arte na cama entre o riso e um beijo e nas mesas de bar em que se discutia arte contemporânea do que numa sala fria às 7:30 da manhã de uma quinta feira, entre slides e anotações. Óbvio que não diminuo meu aprendizado formal, devo a ele meu emprego. Mas no que se refere aos rastros, a informalidade sempre deixou um caminho mais interessante traçado.
Copioso título... O velho aqui tinha certeza que era ele em movimento!!!!
Algo preciso fazer para que alguém leia! (Risos)
Rute disse...
Faço um paralelo com a Academia: no que diz respeito à mim, tenho mais carinho pelo aprendizado sobre arte nas rodas de conversa entre amigos,nas discussões sobre a natureza da arte na cama entre o riso e um beijo e nas mesas de bar em que se discutia arte contemporânea do que numa sala fria às 7:30 da manhã de uma quinta feira, entre slides e anotações. Óbvio que não diminuo meu aprendizado formal, devo a ele meu emprego. Mas no que se refere aos rastros, a informalidade sempre deixou um caminho mais interessante traçado.
Acho que a palavra carinho é emblemática. É como se o afeto fosse um condutor mais eficiente para o nosso aprendizado. Fico feliz em perceber que não sou o único maluco. Apareça, Rute!
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