As personagens de Velhos caem do céu como canivetes estão em permanente processo dialético, mesmo sem ter a menor
consciência disso. Em certo momento eles dizem:
SER ALADO – Por que não tens [os quatro] dentes
[superiores da frente]?
SER HUMANO – Meu pai os arrancou na infância. SER ALADO – Em sinal de sacrifico?
SER HUMANO – Não. Para trocá-los por dentes de ouro.
SER ALADO – Por quê?
SER HUMANO – Uma tradição da época.
SER ALADO – Tradição estranha.
SER HUMANO – Possuir dentes de ouro era sinônimo de ascensão social.
SER ALADO – E o ouro?
SER HUMANO – Nunca chegou, nem a fartura.
Qual
é o limite entre tradição e mutilação? Até onde a cultura se justifica por si?
Touradas são cruéis, mas não consigo imaginar a humanidade sem sua beleza. Por
outro lado, agulhas na pele me causam extremo desconforto. Apesar do fragmento
transcrito não ser o tema da encenação, herói e anti-herói azedam por zonas que
vão além dos motes motores da pré-dramaturgia. Esse poderá ser um deles, mesmo
que não seja. Fica a pergunta: o que faria você arrancar seus dentes?
4 comentários:
O trabalho desta Pequena Companhia me encanta e me inspira. Espero ter a oportunidade de ver no palco este processo de fazeção de Os Velhos.
Aqueleabraço
Massa!
Obrigado, Neusa, André. Os comentários aqui me são mais caros que lá (face, twitter etc) rsrsrsrr...
Vozes dentro da cabeça, me lembrando que, do futuro, estão ouvindo e observando, através de implantes dentários biônicos, o que digo e o que não faço, no passado. É de arrancar os dentes!
Postar um comentário